
Um guia de apoio às famílias
Sem medo da toxoplasmose
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Não é preciso livrar-se do gato, nem deixar de comer o que lhe apetece para evitar a toxoplasmose. Mas são precisos alguns cuidados para evitar esta doença que, apesar de rara, pode provocar lesões graves no bebé.
A toxoplasmose é um dos maiores fantasmas da gravidez. As mulheres que não estão imunes são inundadas com proibições para evitar a doença e passam a gravidez em stresse, sem comer saladas, que tão bem lhe sabiam, ou fugindo do querido gato, que tanta companhia lhes fazia.
De facto, é preciso algum cuidado para evitar a toxoplasmose, mas é possível desfrutar a gravidez sem viver em sobressalto com a possibilidade de contrair esta doença. A primeira notícia tranquilizadora é que o risco de uma grávida ter toxoplasmose é de apenas um por cento. Além disso, estima-se que 59 por cento da população portuguesa já tenha contactado com o parasita, ou seja, mais de metade das grávidas será imune à doença.
Para que não restem dúvidas quanto aos cuidados a tomar, aqui ficam as respostas às perguntas mais importantes sobre a toxoplasmose.
O que é a toxoplasmose?
É uma doença infecciosa que se transmite atarvés da ingestão ou contacto com um parasita - o toxoplasma gondii. O gato é importante na transmissão desta doença, porque é o seu principal hospedeiro. É no intestino do gato que o parasita atinge uma forma amadurecida e se reproduz, libertando os oocistos ou ovos (uma forma enquistada do toxoplasma), que são eliminados pelas fezes. Ao expulsar os oocistos, os gatos ficam imunes, mas a água, o solo e os vegetais contaminados podem infectar outros animais, como o porco, a vaca ou o carneiro, conduzindo à formação de quistos do parasita nos seus músculos e vísceras.
Como se contrai a doença?
A infeccção pode ocorrer através da ingestão de alimentos que contenham ovos do parasita. Alface, tomate ou morangos, por crescerem mais perto do solo, podem ser facilmente contaminados. Mas todos os vegetais (frutas e legumes) podem, em algum momento, ter contactado com o parasita. Daí que seja necessário lavá-los bem quando consumidos crus. Ingerir carne mal passada ou mexer em qualquer material contaminado por fezes de gato são as outras formas de contágio. A doença não se transmite de pessoa para pessoa.
Quais são os sintomas?
Numa pessoa que não está grávida, a toxoplasmose é inofensiva e praticamente não se manifesta. Às vezes, sente-se algo parecido com uma gripe ligeira - mal-estar geral, sensação febril, gânglios inchados - mas na maior parte dos casos não dá sintomas. Por isso, muitas mulheres só sabem que tiveram a doença quando fazem análises na gravidez.
Como se detecta a toxoplasmose durante a gravidez?
Também durante a gravidez, a toxoplasmose não tem sintomas característicos. Por isso, a única forma de saber se existe infecção é através de exames. Habitualmente, fazem-se três análises ao sangue para detectar a infecção, uma em cada trimestre. Se a primeira revelar imunidade, não é necessário fazer mais nenhuma.
Porque é importante saber se tem toxoplasmose?
Apesar de a doença não trazer qualquer sintoma ou problema para a mãe, o parasita consegue passar através da placenta e infectar o bebé, provocando-lhe graves lesões.
Que cuidados são necessários para evitar a doença?
Em relação à alimentação, deverá lavar bem os vegetais com muita água corrente ou consumi-los cozinhados. Os produtos que existem à venda para lavar os vegetais não garantem a eliminação do toxoplasma gondii. Se tiver dúvidas em relação à fruta, é melhor tirar-lhe a casca. A carne deverá ser sempre bem cozinhada. Lavar bem as mãos e todos os utensílios utilizados ao mexer em carne crua. Usar luvas para fazer jardinagem, mexer em terra e limpar o cocó de gatos ou evitar fazer estas actividades. Os gatos que não saem de casa e que são alimentados exclusivamente a ração muito dificilmente terão algum contacto com o parasita. Por isso, se for esse o caso, não é preciso livrar-se do animal.
Se a grávida for infectada, qual é a probabilidade de o bebé também ser infectado?
A probabilidade de infectar o bebé é de cerca de 40 por cento, variando conforme a fase da gravidez. No terceiro trimestre, o risco de infecção do bebé é mais elevado, ocorrendo em quase 80 por cento dos casos. Pelo contrário, até às 12 semanas, o risco de contágio do bebé ronda os cinco por cento. No entanto, quanto mais precoce for a infecção congénita, maior a gravidade para o bebé.
Que efeitos pode ter no bebé?
Se o bebé for afectado no primeiro trimestre da gravidez, aumenta o risco de aborto. Mais tarde, a infecção pode causar parto pré-termo ou malformações, tais como: lesões oculares, cerebrais, do fígado e do baço, atraso mental. Muitas destas anomalias podem não ser aparentes à nascença e o diagnóstico só ser feito meses ou anos depois.
Como se sabe se o bebé foi infectado?
A amniocentese é o único exame que confirma a doença, mas só pode ser realizada após as 18 semanas de gravidez e com um intervalo relativamente à data da infecção materna superior a quatro anos. Se for efectuada mais cedo, pode ocorrer um falso positivo.
Qual é o tratamento durante a gravidez?
Se o resultado da amniocentese for negativo, a mãe terá de iniciar uma terapêutica profilática, para evitar a transmissão ao bebé, que deverá ser tomada até ao final da gravidez, e será realizada uma ecografia de quatro em quatro semanas. Se o resultado for positivo, administram-se fármacos para tratar a infecção fetal, fazem-se ecografias de duas em duas semanas e a grávida será sujeita a mais análises para avaliar os efeitos secundários da medicação.
A imunidade é para sempre?
Pode dizer-se que não é para sempre, mas quase. Ou seja, o parasita pode voltar a infectar uma pessoa que já teve a doença, mas, habitualmente, não há motivos para preocupação, uma vez que o sistema imunitário materno reconhecerá a reinfestação e protegerá o bebé.
Fonte: Pais & Filhos - Junho 2012 (Texto escrito com a colaboração da obstetra Marcela Forjaz, autora d' O Grande Livro da Grávida - Esfera dos Livros)
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